Eu vi a rainha da bateria da escola de samba E vi o cigano bailando e tocando tambor Eu vi a criança que fazia castelos na areia E a alegria estampada no rosto do menino que salvava seu chinelo do mar Eu vi um pescador que pescava seus próprios pensamentos E vi dois amantes idosos lentamente a caminhar Eu vi o burguês que exibia seus inúteis talentos E vi o vira-lata sarnento deixando seus rastros na areia Eu vi a despetalada rosa oferecida à iemanjá E vi a garrafa vazia de cerveja jogada na praia Eu vi conchas brancas que suplicavam teu nome E vi senhoras discursando sobre homens na mesa do bar Alcancei acalantos e cigarros ao pobre servo E vi tristes traves vazias da goleira onde costumávamos brincar Senti a tua doce presença na brisa que tocou em meus lábios E me disse que esse mês de janeiro agora só restava em nossos corações