Nasci em Bofete na costa da serra Até os quinze anos vivi nessa terra Domingo cedinho arriava o bragado Domingo e feriado ia até a capela Eu tinha um bragado, um cavalo de fiança Pousava amarrado em todas as festanças Eu sou inclinado, canto de viola Do tempo da escola desde a minha infância Minha obrigação era lidar com gado No meu alazão muito bem amestrado Toda tarde eu ia prender os bezerros Pro gado leiteiro dormir separado O monjolo d’água bate sem cessar No casarão de tábua, no fundo é um pomar Canta o urutau na furna da serra Quando a tarde encerra e surge o luar Os homens bem cedo iam trabalhar Passava o arvoredo e ia pro cafezal O que eu tinha medo e bastante cuidado Dos urutus dourados que habitava o lugar Quando cai a tarde perto do paiol Na beira da vargem canta um chororó Seu cantar invade o meu coração Viver no sertão é o meu prazer maior Pegava o trabuco eu e o Luiz Simão Pra caçar macuco naquele sertão Eu fico maluco, nem queiram saber Lido pra esquecer daquele tempo bom Depois resolvi me mudar pra cidade Hoje eu passo aqui grandes contrariedades Eu canto assim e vivo a cantar Só para enganar esta grande saudade