Carlos Zel

Retrato Dum Alfacinha Sub-urbano

Carlos Zel


Olha lá, ó alfacinha
Dos centros comerciais
Dos hamburguers, da roupinha
E de outras coisas fatais

Não conheces o país
Nunca foste a Portugal
Nem mergulhaste o nariz
Nas praias do Litoral

E nunca ouviste o silêncio
Nos confins do Alentejo
Nem saíste de Lisboa
Nem sabes onde é o Tejo

Nem viveste uma matança
Numa aldeia branca, remota
De um porco de confiança
Só engordado a bolota

Compras o que não precisas
Com dinheiro que não tens
Mas já tens o telefone
Que a televisão te vendeu

Ás missa tu dizes não
E ninguém te beatifica
Ou ruges como um leão
Ou rezas pelo Benfica

Também vais á discoteca
Com esse teu ar parolo
Peruca sobre a careca
Fazer figura de tolo

Trabalhas que nem um cão
E ainda por cima, és mal pago
Tu só vês televisão
Vendes a alma ao diabo

Deves ir ao oculista
P’ra te pôr lentes melhores
A ver se vês Portugal
E todos os seus primores

Queres um conselho d’amigo
De experiência bem vivida?
Deixa o joio, guarda o trigo
Começa a viver a vida

Cookie Consent

This website uses cookies or similar technologies, to enhance your browsing experience and provide personalized recommendations. By continuing to use our website, you agree to our Privacy Policy