A minha velha casa, por mais que eu sofra e ande, é sempre um golpe de asa, varrendo um Campo Grande. Aqui no meu pais, por mais que a minha ausência doa, é que eu sei que a raiz de mim está em Lisboa. A minha velha casa resiste no meu corpo, e arde como brasa dum corpo nunca morto. À minha velha casa eu regresso à procura das origens da ternura, onde o meu ser perdura. Amiga amante, amor distante. Lisboa é perto, e não bastante. Amor calado, amor avante, que faz do tempo apenas um instante. Amor dorido, amor magoado e que me doí no fado. Amor magoado, amor sentido, mas jamais cansado. Amor vivido é o amor amado. Um braço é a tristeza, o outro é a saudade, e as minhas mãos abertas são chão da liberdade. A casa a que eu pertenço, viagem para à minha infância, é o espaço em que eu venço e o tempo da distância. E volto à minha casa, porque a esperança resiste a tudo quanto arrasa um homem que for triste. Lisboa não se cala, e quando fala é minha chama, meu castelo, minha Alfama, minha pátria, minha cama. Amiga amante, amor distante. Lisboa é perto, e não bastante. Amor calado, amor avante, que faz do tempo apenas um instante. Amor dorido, amor magoado e que me doí no fado. Amor magoado, amor sentido, mas jamais cansado. Amor vivido é o amor amado. Ai, Lisboa, como eu quero, é por ti que eu desespero.