No centro da taba se estende um terreiro Onde ora se aduna o concílio guerreiro Da tribo senhora, das tribos servis Em fundos vasos d'alvacenta argila Ferve o cauim Enchem-se as copas, o prazer começa Reina o festim O prisioneiro, cuja morte anseiam Sentado está O prisioneiro, que outro Sol no ocaso Jamais verá! A dura corda, que lhe enlaça o colo Mostra-lhe o fim Da vida escura, que será mais breve Do que o festim! Contudo os olhos d'ignóbil pranto Secos estão Mudos os lábios não descerram queixas Do coração Mas um martírio, que encobrir não pode Em rugas faz A mentirosa placidez do rosto Na fronte audaz! Que tens, guerreiro? Que temor te assalta No passo horrendo? Honra das tabas que nascer te viram Folga morrendo Folga morrendo; porque além dos Andes Revive o forte Que soube ufano contrastar os medos Da fria morte Rasteira grama, exposta ao Sol, à chuva Lá murcha Meu canto de morte Guerreiros, ouvi Sou filho das selvas Nas selvas cresci Guerreiros, descendo Da tribo tupi Da tribo pujante Que agora anda errante Por fado inconstante Guerreiros, nasci Sou bravo, sou forte Sou filho do Norte Meu canto de morte Guerreiros, ouvi Já vi cruas brigas De tribos inimigas E as duras fadigas Da guerra provei Nas ondas mendaces Senti pelas faces Os silvos fugaces Dos ventos que amei Andei longes terras Lidei cruas guerras Vaguei pelas serras Dos vis Aimoréis Vi lutas de bravos Vi fortes - escravos! De estranhos ignavos Calcados aos pés E os campos talados E os arcos quebrados E os piagas coitados Já sem maracás E os meigos cantores Servindo a senhores Que vinham traidores Com mostras de paz Aos golpes do imigo Meu último amigo Sem lar, sem abrigo Caiu junto a mi! Com plácido rosto Sereno e composto O acerbo desgosto Comigo sofri Não vil, não ignavo Mas forte, mas bravo Guerreiros, não coro Do pranto que choro Se a vida deploro Também sei morrer