Cangaço

Deserto do Real

Cangaço


[Areia
Suor
Sentido
Ausência]

[Passo a passo, buscando uma sombra
O sol já não mais ajuda
Olho por olho, a cegueira me assombra
Cicatrizes de uma luta injusta]

[Sementes mortas
Enterradas no exagero
Caprichos sem justiça
Insensatez nas entrelinhas]

Todas as paisagens,
[Distorcidas pelo extremo calor]
Monocromaticamente,
[Desvendando as esferas do horror]
Questiono o motivo da peregrinação...

Descalço e fraco o ego desaba
[Lágrimas não matam a sede]
Acendi uma vela ao passado
Saudando Deus e o Diabo
Objetivamente deserto do Real...

[Tão certo e sisudo, fingindo o futuro
Forjando rotinas nas retinas
Aprendendo a ser Eu em mim mesmo
Esqueci de curar as feridas
E com tantas falhas na vida
Só quero o avesso do avesso]

Qualquer alteração no padrão
[Na fé]
No raciocínio
[Na ilusão]

[Descompasso]
Desandado
[Descoberto]
E revelado

Qualquer alteração no padrão
[Na fé]
No raciocínio
[Na ilusão]

[Descompasso]
Desandado
[Descoberto]
E revelado

[Sugo a natureza e as mentes do passado
Julgo a veracidade de minha existência
Memórias me mentem, me enganam e me traem
Coletivo ritual...]

Confirma ou cancela
Individual pelo coletivo
Assim se espera
De cada cela
[Genes sem rumo...]

E no fim da viagem
[Surge a sombra do oasis]
Sempre tão perto
Mas atrás da visão de mim
[No centro de tudo mato a sede enfim]
Aprimorando o presente

Eu deserto...
[Tu desertas...]
Ele deserta do Real!