Aqui passam bicicletas velhas, carros importados Homens descalços, crianças amedrontadas Palhaços, gente chorando, cantando Gente mentindo Mulheres sinceras Mulheres guerreiras, sofridas Também as trapaceiras Passam pipoqueiros, festas juninas, lua cheia Lampião. Sol ardente, tempo quente Inverno e solidão Passam mendigos Papagaios, andorinhas, gaviões Passam também as desilusões Passam nuvens de fumaça, aviões, mares Navios estrangeiros, diplomatas, cidades E capitais De tudo passa um pouco Nocivos, perigosos e loucos Passam crianças pedintes, mauricinhos Prostitutas, ventania, temporais, lixeiros Padeiros, vendedores, bicheiros Folias dos carnavais Passa os anos, a coragem e a dor O medo o terror. Passam rios Balas perdidas, o sono Pessoas corrompidas Passam riquezas, ladrões, drogas Até disco voador e astronautas Passam vidas passadas Águas poluídas, magoadas Passam governos, juízes, paixões Dissabores, almas penadas Vagões. Passa o tempo E os reis desatentos Deixando que passe E atravesse o mar Amazônia