Seu doutor, eu não lhe engano Tenho mais de 30 anos que moro neste lugar Dou-lhe a palavra de homem: Se não quer morrer de fome, vá viver na capital Aqui no nosso sertão, essa história de injeção, o pessoal tem receio E vozmecê como é novo e não conhece esse povo Eu vou lhe dar uns conselhos A coisa aqui anda esquisita E ninguém mais acredita em receita de doutor Já é costume da gente, quando alguém está doente, chama logo o rezador Se o cara tá moribundo. manda chamar Zé Raimundo Que é rezador diligente, a todo mundo socorre Quando reza o cara morre ou fica bom de repente Rezador, sim senhor. Seu doutor, não senhor. Pois o próprio Zé Raimundo, no tempo que aqui chegou Mostrava pra todo mundo seu diploma de doutor Quase que morreu de fome, precisou mudar de nome e treinar pra rezador (Com fé no coração e três galhos de pinhão lhe garanto. Rezando três vezes um cruzado deixa qualquer doente forte, bonzinho e corado. Para que você se convença, vou te dizer a doença que o rezador tem curado: Panariz, sete couro, ferida brava, frieira, mordida de besouro, maldita coceira, tudo quanto é ferida, dor de espinhela caída, garganta inchada e papeira. Dor de dente, dor nas costas, estômago inchado, dor de cabeça, zumbido, ânsia, engasgo, dor de lado, qualquer espécie de dor, Zé Raimundo, o rezador, tem muita gente curado. Com ele não tem gogó, essa história de agonia, quebranta o mal olhado, terçol, enjôo, sara bexiga, sarampo ligeiro que nem um relâmpago cura da noite pro dia. Mordida de Cascavel, Jararaca, Salamanta. O sujeito tendo fé, essas coisas não lhe espanta. Zé Raimundo bota a mão e na mesma ocasião, o doente se levanta. Por isso que o pessoal só procura Zé Raimundo. Ele aqui neste lugar é primeiro, sem segundo. Enquanto houver rezador, ninguém liga pra doutor, nem que venha de outro mundo. Que Deus te ponha em virtude)