Sim, em dois pontos cruzados vi um menino Que ilustrava rabiscos, não muito mais Não se assuste comigo Busco apenas abrigo, um sonho amigo e nada mais Garoto me conte onde está sua família? Em algum canto do mundo, talvez não mais Mas quero que saiba que não sou ladrão Um dia plantei uma árvore, me disseram que dava feijão Não posso esperar por isso ando e faço das ruas meu quinhão Bate, late, lata, no carrinho busco lata, papel O sol, a sede, mata tua sede És nobre fruto quem vem dos céus Se a noite me torna órfão, o frio eu já vi que mata No picadeiro não se sobe mais, o meu circo se faz no semáforo A luta que enfrento esboço, fingindo que sou um pássaro A espera do alimento que eu mesmo invento Sim, em um conto num livro eu li Que plantaram uma esperança No coração de uma criança, de uma criança Continuou a desenhar, meio lápis, traço firme Pensei que era um sonho, pensei que era um filme Desliguei por um instante, jurei por este instante Que ajudaria, mas era só mais um, só mais um Pensei no meu filho, no meu amor, família, amigos, era só mais um Tó, mostre ao mundo que eu estou só A luta continua, nua como iniciei A inveja, cobiça, ganância e solidão Eu vivo, tu vives neste mundo cão Bate, late, lata Se a noite me torna órfão