Ary Dos Santos

O Amarelo da Carris

Ary Dos Santos


O amarelo da Carris
Vai da Alfama à Mouraria
Quem diria
Vai da Baixa ao Bairro Alto
Trepa à Graça em sobressalto
Sem saber geografia

O amarelo da Carris
Já teve um avô outrora
Que era o xora???
Teve um pai americano
Foi inglês por muito ano
Só é português agora

Entram magalas, costureiras
Descem senhoras petulantes
Entre a verdade, os peliscos e as peneiras
Fica tudo como dantes

Quero um de quinze pra Pampulha
Já é mais caro este transporte
E qualquer dia
Mudo a agulha porque a vida
Está pela hora da morte

O amarelo da Carris
Tem misérias à socapa
Que ele tapa
Tinha bancos de palhinha
Hoje tem cabelos brancos
E os bancos são de napa
No amarelo da Carris
Já não há pode seguir
Para se ouvir
Hoje o pó que o faz andar
É o pó do lava-lar
Com que ele se foi cobrir

Quando um rapaz empurra um velho
Ou se machuca uma criança
Então a gente vê ao espelho o atropelo
E a ganância que nos cansa
E quando a malta fica à espera
É que percebe como é
Passa à pendura
Um pendura que não paga
E não quer andar a pé

Entram magalas, costureiras
Descem senhoras petulantes
Entra a verdade
Os peliscos e as peneiras
Fica tudo como dantes
Quero um de quinze pra a Pampulha
Já é mais caro este transporte
E qualquer dia
Mudo a agulha porque a vida
Está pela hora da morte

Cookie Consent

This website uses cookies or similar technologies, to enhance your browsing experience and provide personalized recommendations. By continuing to use our website, you agree to our Privacy Policy