Arnaldo Brandão

Querendo Saber

Arnaldo Brandão


Eu tô querendo saber...

Eu sei que a máfia é careta quando negocia com Deus
La mama é de extrema direita, o filho com grana é ateu
E o povo, o povo é otário, quando vota sem saber porque
Em candidatos preparados pra um teatro, dirigido pelos donos da TV

Eu sei que a AIDS é foda, e a dengue e a malária urbana
Uma veio do laboratório e outra da poça de lama
Tragédia, na realidade, é o planeta transformado num mangue
Onde sempre os mais miseráveis pagam o pato com suor e sangue

Eu sei que o vício da moda é o excesso de informação
Enquanto o caos organiza a natureza, ecologia vira religião
Será que está no futuro o sentido da contradição
Que quer resolver o mundo na base de talento e paixão

O saber é um labirinto, dança na intuição
Se a parada é na avenida o desfile é contra-mão
A agonia de saber e não poder remediar
Um navio sem destino à deriva em alto-mar
O pessimista que pensa que o céu está caindo
É mais sensato que o iludido que pensa que vai tudo bem
Muito bem muito legal pensar global agir local
Viajando na loucura de um planeta digital
E que o desejo seja adequado e que a razão tenha um pouco de paixão
Porque paixão sem razão é muito mais do que cega
E a razão sem paixão é muito do que morta
E o que for lá do fundo do teu ser assim também será o teu desejo
E o que for o teu desejo assim será tua vontade
O que for tua vontade assim serão os teus atos
E o que forem os teus atos assim será o teu destino
E tudo o que existe tem dois nomes
Um na língua de Deus e outro na língua dos homens
Porque tu és nuvem, és mar e esquecimento
E és também o que perdeste em um momento

Entre o eu e o nada existe um intervalo
E entre a vida e a morte existe apenas um corte

Eu tô querendo saber...