Aori

Musa

Aori


A música é uma musa confusa, não sabe se te ajuda ou te usa;
Muitos chegam nela e só conhecem a recusa;
E se você se beneficia dela, de falso te acusa;
É tudo panela que dizem colegas, quando se cruzam;
Nas vielas da vida;
Ontem eu vi ela puta da vida, parada na sequela;
Estéreo, sem brilho;
Também, o que já fizeram com ela, até Deus duvida;
Ninguém parece dar importância devida a quem;
Tá perto de você, desde que você era neném;
Lembra do seu primeiro parabéns?
Como ele seria sem som, sem alguém batendo palmas;
Somente o silêncio dos anjos dizendo amém, sangue bom?!
Eu mal me lembro como a gente se conheceu;
Mas desde a primeira vez que eu a vi, ela pareceu maior que eu;
Cresci, e o laço permanece intacto;
Pactos com o sangue da veia poética, não podem ser quebrados;
Quantas vezes eram só nós 2, dando 2;
Vivendo aventuras, escrevendo duro depois!?
Quantas vezes no calor da noite, alguém compôs;
Poesia pra uma musa que há muito se foi!?
Quantas vezes já adormeci, pensando em ti;
E embalado sonhei com coisas que eu escrevi!?
Quantas vezes eu ouvi: "É melhor desistir";
"Você não merece essa aí", "Sai dessa Aori"!?
Quantas vezes eu vi manos mandando rimas;
Perdendo tempo nas esquinas, esperando que você chegasse!?
Mas eu sei, você tem suas manias;
Às vezes a gente só se vê quando o sol nasce;
E tudo bem, não quero saber onde você tava, nem com quem;
Sempre que tu vir ficar comigo, eu te receberei bem;
E já que você simplesmente vem, não posso impedir que tu vá além;
Contanto que tu prometa voltar;
Meu bem maior é ter você ao meu alcance;

Eu acendo um incenso, deixo o beat rolar no repeat;
Aí eu sento e penso, e me concentro ao limite;
Sentir a sua presença, prazer maior não existe;
Minha musa, minha música, minha vida eu dedico a ti;

Minha musa me emociona, me ameaça mas não me abandona;
Eu preciso dela, e ela de mim, é assim que funciona;
Às vezes ela vai de carona na garupa de algum garoto;
Atrás de conforto;
Mas farsas duram pouco;
Ela não é só minha, eu não posso ser fominha;
Desde que eu a conheci, ela já era sozinha;
Atraente, sempre rodeada de gente;
Eu queria sua companhia, mas era só um adolescente;
Os homens ficavam loucos, até perdiam o decoro;
Botavam calça apertada de couro, pintavam o cabelo de loiro;
Como se isso fosse te atrair, mas pra mim, música de corno;
É um jeito de te trair;
Eu colo com ela, não é pelo dinheiro, enfim;
É que apesar de eu ser um cavalheiro, ela é quem abre as portas pra mim;
A gente já entrou pela janela sim;
Já pulei o muro do Circo Voador pra encontrá-la num camarim;
Dizem que ela era mais bela, mas ela só tá cansada;
De ralar de domingo a domingo;
Não adiantou nada se liberar do cafetão gringo;
Ela continua vindo da favela pra alegrar rico no condomínio;
Hoje são 3 por 10, e uma é 5;
E seu organismo não tá resistindo bem a essa exploração;
Ela não é mais a mesma desde que foi na televisão;
De shortinho, se virando nos 30;
Explorada por pilantras, própria perdida;
Eu sei que você nunca foi santa, mas você era mais distinta;
Logo agora que você faz sucesso lá fora;
Na hora em que malandros te exportam, ninguém mais se importa;
Nêgo só quer sugar seu suor, saber se a conta bancária engorda;
Mas eu pergunto:
O que vai ser de nós se você tiver morta?

Eu acendo um incenso, deixo o beat rolar no repeat;
Aí eu sento e penso, e me concentro ao limite;
Sentir a sua presença, prazer maior não existe;
Minha musa, minha música, minha vida eu dedico a ti