Anjos descem dos altares e oratórios e se despojam de túnicas e asas, renegam ornamentos e paramentos, saem à luz para a sua remissão. À perversão como forma de exorcismo, ao crime como última penitência, maculando-se em busca da salvação. Santos-de-pau-oco, de gesso, santos assexuados à fogueira, à execração por sua inutilidade. Livres da maldição da ociosidade. Que os corpos se enchafurdam na lama, se maculem com suores e tremores carnais, na cama, nos vergéis corrompidos. Aos sofridos devaneios, aos calores da condição humana e seus desvarios aos desvios como direção de vida - para o perdão divino e a santidade. Que os anjos assumam sua culpa e peçam desculpa por tanta hipocrisia, pela soberba de se julgarem castos. Que se saiba: anjos não são santos.