Senhores peço licença Vou contar-lhes uma história De uma tal égua vitória Que existiu no meu rincão Lá pra banda dos galpão Pouco adiante da Boa Vista Seu dono um carreirista Por nome de Sebastião Era do tordilho velho Também do pingo leitão Que esse tal de Sebastião Arranjou a parelheira Uma eguita mui ligeira Em duas quadras de chão Nas patas tinha destreza Que enriqueceu a pobreza E deixou a rico pobretão E toda vez que essa égua Tivesse carreira atada A noticia era alarmada Como se houvesse eleição Reunia-se a multidão Para jogar em suas patas Vinha gente de gravata Trazendo dinheiro grosso Uns de lenço no pescoço E outros de pés no chão Na data da tal carreira Logo que clareava o dia Ia chegando a parceria Nos pingos mascando freio E aquele povo da serra Do pinhal e do rodeio E de outras partes que vinha Jogava tudo o que tinha Vaca, porco, galinhada Jogava terra, morada E até o cavalo da encilha Dava luz, dava palheta Jogava bois e carreta Só não jogava a família O jóquei, um alarife Do tipo da malasarte Um tal de nenê gularte Que só largava na frente E pra defender sua gente Tinha suas artimanhas Jóquei que honrava a camisa Já no saltar da balisa Trazia a carreira ganha Aquilo que era carreira Que há muitos deixou saudades Símbolo de honestidade Que jamais será esquecido Pois se acaso o corredor Pusesse fora a carreira Era apeado à açoiteira E o dinheiro devolvido Ou então se avisava o povo Corriam tudo de novo Para ficar decidido Isso já faz muito tempo Agora tudo mudou Por isso que eu já nem vou Assistir a carreirada Hoje confrontam os tempos Pra fazer uma carreira O dono enche a algibeira E o povo paga a parada O dono enche a algibeira E o povo paga a parada Sem freio no linguajar Contei da égua Vitória Relatei a sua história Não foi alegre nem triste Seu dono já não existe Está na paz do senhor Até mesmo o corredor Se foi pra outra morada São Jorge, que anda a cavalo Talvez arranje outro pingo Pra num dia de domingo Fazer uma carreirada Pra num dia de domingo Fazer uma carreirada