Subiram as paredes cinzas negando a guerra milenar Crianças a fazer peteca das pedras e dos coquetéis Tapa os olhos da boneca Não deixe que ela veja aqui tanta gente virando ruína, tanto sonho escombro que restou Um país inteiro virando deserto pra abrigar fantasmas mundiais Tão pouca gente pra ditar o certo e ainda falta voz a quem só quer viver de paz Sobem muros pra esconder a gente Sobem muros pra nos desalmar Sobem muros pra mostrar pra gente que só vive quem puder pagar Mais fronteiras peneiras de gente Mais fronteiras pra nos descartar Mais fronteiras pra mostrar pra gente que ser gente não nos basta ser Tem que ser rei de algum lugar Algum sultão ou coronel Ou ter dinheiro pra poder bancar A vida anda rara demais Subiram o poder da gente de decidir quem vai viver, poder que cresce e indiferente à gente que não conhecer Se for plebeu, sem-terra ou réu De outra cor ou de outro Deus Se for você ou mesmo eu, há espaço de sobra no céu Subiram mais paredes cinzas negando a guerra milenar Crianças a fazer brinquedos dos fuzis e das bombas de gás Tapa os olhos, mundo inteiro! Afinal o que se há de fazer com tanta gente virando ruína? Melhor subir mais muros por aí E a vida anda rara demais