Meu seridó tem as terras Cercadas por grandes serras Cortadas por longos rios Que nos invernos pesados Pelas cheias são mudados Os visuais dos baixios Mas nos verões escaldantes As secas horripilantes Castigam de fazer dó Eu agradeço ao destino Por também ser nordestino Das bandas do seridó. Cresci numa residência Herança da descendência Dos bisavós dos meus pais Deslumbrante construção Resistente casarão Feito há séculos atrás Com salas e corredores E as redes nos armadores Feitos de angico sem nó Ali eu me balançava Adormecia e sonhava Com a paz do meu seridó. Era uma casa rural Pegada com um curral Que ao lado direito tinha Por trás do açude um engenho E feita no mesmo desenho Uma casa de farinha Que em cada compartimento Via-se o emadeiramento Lavrado a gume de enxô Mostrando as imitações Das primeiras construções Erguidas no seridó. Lá eu brincava de graça Com corrupiu de cabaça Amarrado num cordão Bodoque e atiradeira E um pião de goiabeira Na palma da minha mão Um cavalinho de vara Flauta feita de taquara E arapuca de cipó Meus brinquedos de criança Tombados pela lembrança Do chão do meu seridó. Quando as colheitas chegavam Nossos vizinhos juntavam Suas famílias à nossa Catadores de algodão Trabalhando em mutirão Eram a festa da roça A balança de madeira Rangia a semana inteira Pesando algodão mocó Produzido na fazenda E a maior fonte de renda Do povo do seridó. Na cidade abençoada Que de jardim é chamada Deus colocou meu destino Lugar onde eu fui gerado Batizado e criado Fui bom pai e bom menino E até os meus vinte anos Ali morei e fiz planos Sempre cantando forró Na escola comercial E no grande mangueiral De jardim do seridó. Quantos valentes vaqueiros Correndo nos tabuleiros Lá de casa eu também via Ao som do aboio dolente Raivoso e impaciente O gado se reunia Junto aos vaqueiros cansados Com os ombros machucados Por jurema e mororó Aqueles heróis sem glória Também fizeram a história Do vale do seridó. Só mesmo a mãe natureza Pode dar tanta beleza De presente ao interior De paisagens ressequidas Desenhadas e esculpidas Pelas mãos do criador Quando ao sol a mata tosta Deixa uma vitrine exposta Em volta de caicó Cheia de imagens mudas Feitas nas pedras agudas Das serras do seridó. Daquela terra querida Berço e orgulho da vida Oh que saudade sem fim Eu saí de lá tão novo Que não sei nem se meu povo Ainda lembra de mim Qual ave de arribação Bati asa em direção Do meu sonho e voei só Mesmo distante do ninho Também sou um passarinho Do jardim do seridó.