Enquanto a terra morena Floresecer sonhos e cardos E as tranças forem o rumo Dos buçais bem reforçados Pra escorarem os tirões Dos baguais de primavera Então serei um dos poucos A não me tornar tapera. Donde provém meu sustento É onde o baio relincha E o vento que venta norte Toreia o capim da quincha Eu sei meu mundo é pequeno Vai pouco além da invernada Mas sei que tem muito mundo Pra onde segue essa estrada. O mundo que segue a estrada Eu muito pouco conheço Mas sei dos que aqui voltaram Que é um mundo do avesso Onde os sonhos valem pouco E a alma dos campeiros São escravas dos fantasmas Que lhe apartaram do arreio. E enquanto eu tiver meu baio E a força sustentar o braço Decerto não passo fome Como com a boca do laço Pois quando se abre no céu Armada, depois rodilha Meu mundo fica por conta Só do botão da presilha. Sou campo, terra e bem mais Do que eu possa desejar E um dia a terra morena Vem por certo nos cobrar Então serei só recuerdos Povoando sonhos e fatos E um semblante gaúcho Na palidez dos retratos.