Que noite de Natal tristonha, agreste De neve amortalhava-se o caminho O vento sibilava do nordeste Nas frinchas das porta do moinho Sentada à velha mó já carcomida Onde incidia a luz duma candeia O moleiro de barba encanecida Com a mulher comia a parca ceia Próximo do moinho, ouviu-se em breve Uma voz, e o moleiro abrindo a porta Viu um velhinho todo envolto em neve Vergado ao peso duma esperança morta Entrai, meu peregrino da desgraça Disse o moleiro ao pálido ancião Aqui não há dinheiro, existe a graça De haver carinho, piedade e pão Vinde comer, agasalhar-se ao lume Festejar o nascer do Deus Menino Porque a vida somente se resume Na escravidão imposta pelo destino E então o velhinho, numa voz sonora Pronunciou, levando as mãos ao peito Abençoado seja a toda a hora Este moinho que é por Deus eleito