Conheci a Iracema na saída de um cinema Seu sorriso era um poema, o seu corpo um violão Ela veio pro meu lado e eu perdi o rebolado Fiquei logo apaixonado, prometi meu coração Fui levar a moça em casa mas meu corpo tava em brasa E a gente bateu asa prum motel da região Nessa nossa noite ávida Iracema ficou grávida E a sua mãe, impávida, exigiu reparação A minha sogra pôs mãos à obra Fez a manobra pra nos casar Minha poupança foi na aliança Minha esperança ficou no altar Me tornei um bom esposo, dedicado e carinhoso Sou um pai atencioso pra pequena Beatriz Bebo pouco, só cerveja, sou freqüentador da igreja Mas a sorte não deseja que eu consiga ser feliz Nunca tive um bom emprego, sou capacho de pelego Vivo no desassossego de pagar o aluguel E a desgraça mais recente: minha sogra de repente Foi morar junto com a gente, que destino mais cruel! A minha sogra nunca se dobra E se desdobra pra me irritar É fofoqueira, só diz besteira Dessa maneira vai me matar! Diz que eu sou um pé-rapado, que eu devia ser capado Que eu pareço um retardado, tenho cara de mongol Ela é minha mazela, acha que a casa é dela Fica lá vendo novela na hora do futebol Iracema não reclama, diz que a mãe dela me ama E que eu tô fazendo drama porque eu gosto de sofrer E enquanto a vida segue minha sogra me persegue Qualquer dia ela consegue, vai enfim me enlouquecer A minha sogra é uma cobra É uma droga que ninguém quer É intriguenta, é rabugenta Ninguém agüenta essa mulher Dia desses, num rompante, arranjei uma amante Sou cristão, sou praticante, mas também não sou herói Ela se chama Jurema e detesta ir ao cinema Foi Garota de Ipanema num concurso em Niterói Foi criada em orfanato, acha casamento chato Pede pra bater e eu bato, eu quero é me divertir Ela ainda é uma menina mas é muito feminina A Jurema é gente fina e adora me servir A minha vida tá dividida Indefinida, tá por um triz Com a Iracema é só problema Mas a Jurema me faz feliz