Nossa vida é uma tragédia em tantos atos Quantos são os ratos A roerem nossos pés dentro dos sapatos E os sinais vermelhos são como retratos De um amor antigo dentro da carteira Pega a bagulheira, aperta e dá um trato Bota na marica E o sabor que fica é de licor barato Nossa vida é uma tragédia em tantos atos Quantos são os fatos D'Artagnan e Porthos, Aramis e Athos Mosquetes em luta, tão filhos da puta quanto os reis ingratos Criando pessoas feito fossem gatos Um pouco de leite disfarça os maus tratos E lavam as mãos, atores caricatos Imitando o gesto de Pôncio Pilatos Que lavava as mãos e cuspia nos pratos Todos esses anos Todos nós insanos, todos nós escravos Todos nós pacatos, sempre bons, cordatos Pulsos cortados em talhos exatos Uma faca cega, velha , enferrujada Sangra uma enxurrada que nos coagula E que nos faz inúteis feito carrapatos Tantos atos num só ato E no fim da festa O que nos resta é uma ressaca enorme E um pouco de água morna com bicarbonato