Alcymar Monteiro

Saga de um Vaqueiro

Alcymar Monteiro


Vou pedir licença pra contar a minha história...
Como um vaqueiro tem suas perdas e suas glórias...
Mesmo sendo forte, o coração é um menino...
Que ama e chora por dentro, e segue seu destino,
Desde cedo assumi minha paixão,
De ser vaqueiro, de ser um campeão,
Nas vaquejadas sempre fui batalhador,
Consegui respeito por ser um vencedor...

Da arquibancada uma morena me aplaudia,
Seus cabelos longos, olhos negros, sorria,
Perdi um boi naquele dia lá na pista, mas um grande amor surgia em minha vida...
Naquele dia começou o meu dilema,
Apaixonado por aquela morena,
Cada boi que eu derrubava, ela aplaudia
E eu, todo prosa, sorria...
Então começamos um namoro apaixonado,
Ela vivia na garupa do meu cavalo,
Meus planos já estavam, traçados em meu coração,
De tê-la como esposa ao pedir a sua mão,
Que tristeza abalou meu coração,
Quando seu pai negou-me sua mão,
Desprezou-me, por eu ser um vaqueiro,
Pra sua filha só queria um fazendeiro,

A gente se encontrava, sempre às escondidas,
E vivia aquele amor, proibido,
Cada novo encontro era sempre perigoso,
Mas o nosso amor era tão gostoso,
Decidimos então fugir, pra outras vaquejadas,
Iríamos seguir,
Marcamos um lugar, pra gente se encontrar,
Mas na hora marcada ela não estava lá,
Voltei em um galope,
Saí cortando vento,
Como se procura uma novilha, num relento,
E tudo em mim chorava por dentro...
E tudo em mim chorava por dentro...

Vieram me contar, que mandaram ela pra longe,
Onde o vento se esconde, e o som do berrante se desfaz
Um fruto do nosso amor,
Ela estava a esperar...
Fiquei desesperado, por tamanha maldade,
Pensei fazer desgraça, mas me controlei,
E saí pelo mundo, um vaqueiro magoado,
Só por que um dia eu amei...

Passaram muitos anos, e eu pelo mundo,
De vaquejada, em vaquejada, sempre a viajar,
Era um grande vaqueiro, mais meu coração, continuava a penar...

Um dia eu fui convidado, pra uma vaquejada,
Naquela região...
Pensei em não voltar lá, mas um bom vaqueiro,
Nunca pode vacilar,
Nunca mais soube de nada, do que lá acontecia,
Eu fugia da minha dor, e da minha agonia,
Ser sempre campeão, era a minha alegria,

Depois de dezessete anos, preparei-me pra voltar,
Como um campeão,
Queria aquele prêmio pra lavar meu coração,
Mas sabia que por lá, existia um vaqueirão,

Começou a vaquejada em uma disputa acirrada,
Eu botava o boi no chão, ele também botava,
Eu entrei na festa,
E ele lá estava,
Eu fiquei impressionado, como ele era valente,
Tão jovem e tão forte, e tão insistente,
Eu derrubava o boi,
E ele sempre a minha frente,
Chegava o grande momento, de pegar o primeiro lugar,
Os bois eram mais fortes, ele não iria derrubar,
E sorri comigo mesmo "desta vez eu vou ganhar"...
Quando me preparava, pra entrar na pista,
Quando olhei de lado, quase escureci a vista,
Quando vi uma mulher,
Aquela que foi a minha vida,
Segurei no meu cavalo, para não cair,
Tremi, fiquei nervoso, quando eu a vi,
Enxugando e abraçando,
O vaqueiro bem ali,

Entrei na pista como um louco,
O bate-esteira a percebeu,
Andei foi longe do boi,
"Há isso nunca aconteceu!"
O Vaqueiro entrou na pista, e eu fiquei a observar,
Ela acenava, ela aplaudia,
E ele, o boi a derrubar,
Derrubou o boi na faixa,
Ganhou o primeiro lugar...

Fiquei desconsolado, envergonhado eu fiquei,
Perdi o grande prêmio,
Isso até eu nem liguei,
Mas perder aquele amor,
Há eu não me conformei,

Ela veio sorridente, em minha direção,
E trouxe o vaqueiro, pegado em sua mão,
Olhou-me nos meus olhos, falou com atenção:
"Esse é o nosso filho, que você não conheceu,
Sempre quis ser um vaqueiro, como você, um campeão,
E pela primeira vez, quer a sua Benção..."

Eu chorava, de feliz,
Abraçado, com meu filho,
Um vaqueiro, como eu, eu nunca tinha visto,
Posso confessar, "o maior prêmio,
Deus me deu..."