Quem me ver desse jeito na lida Pensa até que eu sou malfazejo Mas já tive com a faca e o queijo Já fui quase feliz nessa vida Papai era o doutor marajá Mamãe era a doma burguesia Eu, menino, já era um reizinho Lambuzado na doce alegria O difícil foi acreditar Que num raio da noite pro dia Via o mundo então despencar Sobre o sonho e a tal mordomia O destino com sua ironia Me deixou sem o que me calçar A dormir de barriga vazia Um menino na rua a vagar Olha o bolo frito Vendo pra passar a fome Moça bonita não paga Mas, também, não come O meu pai se chamava Golias Enfrentando milhões de Davis Todas pedras que lhe atiravam Com certeza acertavam em mim O gigante tomou moribundo Minha mãe se desequilibrou E virou mulher de tudo mundo Madalena que a vida criou Tive que enfrentar este mundo Com apenas dez anos de idade Me tornei um pingente de bonde Pelos quatro cantos da cidade Um menino que nem malazarte Que era o rei da coroa de flandre A fazer arte em toda parte Um João Grilo da cidade grande Olha o bolo frito... Quando eu via os outros meninos Estudando em colégio grã-fino Eu morria de inveja e so via O meu mundo se desmilinguido Enxergava todo desatino Via o mundo que nem parafuso Só girava e ficava confuso E com ele enroscava o destino Trombadinha, moleque, pivete... Eram os nomes que eu tinha na rua Sendo filho de sol e da lua Não temia chover canivete Muitas vezes dormi ou relento Outras tantas eu quase morri Pela fome, de porre ou de briga Na escola da vida aprendi Olha o bolo frito... O meu mundo era mesmo uma bola Eu jogava com muito amor Enfrentava na vida as pernadas Aprendia sem ter professor Mas um dia me chega a sorte Na pessoa de um treinador Minha sina era ser jogador Era um sonho que desde pirralho Eu trazia na minha cachola Mas o tempo furou minha bola E me fez jogador de baralho Perdi tudo que eu tinha no jogo Fui um bobo e voltei ao conflito Um Raimundo de um mundo imundo A levar essa vida no grito Olha o bolo frito...