Lençol Carmesim Afonso Rodrigues (1993) Sangra a manhã no meu peito Um travesseiro vazio Avisa que enfim foi desfeito E apesar do suor sinto frio Singra em meu corpo um desejo Um delírio suave de anil Queimo na pele a febre ferina do beijo Hematomas na alma, hecatombes de abril Cinza, a manhã se desfaz Na ampulheta minguante Tigres, tiaras, domingos Paixão, carnaval E um tiro fatal A torneira de gás, um punhal Expostos num quadro invisível Porão da memória Rubro lençol carmesim Rubi dos meus olhos, silêncio Brota da mão a serpente Mulher de repente Nascida de mim...