Sair do poço é sangrar os dedos Dos pés, da alma, dos veios e veias Deixar-se preso, mergulhar no espelho Nadar na insônia das secas e cheias Abrir o novo é rasgar as águas Sem barco ou leme Sem ter porto ou cais É voar sozinho em clave de vento Gritar nos olhos cada nunca mais Ver-se por dentro é morder a entranha Do que é estranho, do que não se explica Cravar as garras no próprio destino No desatino de quem parte ou fica Viver a vida é dançar no abismo Sem ter cordames na raiz do medo É ter a alma solta E nas algemas morrer bem tarde Mesmo sendo cedo Abrir o tempo é rever lembranças Do que em pequeno era dor e espanto Viver a pleno cada desespero Mesmo sem colo para o acalanto Saber da vida é pensar vivendo O que sabemos pouco nos demora Contar segundos é sempre um a menos Por mais que o tempo estale nas esporas Abrir os olhos é rever retratos Gastar as unhas contra a ventania Até o quando de abraçar a hora Que engole a sombra E adormece o dia