Me deixaram só, sozinho Eu e minha música tocando no radinho Que lugar é esse? Quem é essa gente? Que lida com sangue sorridente E veste branco Injeta droga na minha veia Comenta minha morte Na hora da ceia sinto dores Mas não posso reclamar Só sei que alguém tentou me matar Era domingo, sete de agosto Me serviram bala, pá! Nem senti o gosto Só lembro que estava conversndo com o marcinho E de repente uma parte veio em cima de mim Não lembro de mais nada Aqui estou um corpo que respira Aos cuidados de um doutor Abri meus olhos na parede vejo um quadro Uma santa com os olhos no prato Olhei pro lado um paciente pior do que eu Perdeu as pernas num acidente que sofreu Preciso ver meu filho Realçar no meu rosto de novo aquele brilho Não posso falar, não posso cantar Não posso morrer, preciso sonhar Não posso chorar, nem ajoelhar Preciso me levantar Meu coração tá de pé, um pouco debilitado Meus amigos lá fora, todos agoniados Querendo notícias, querendo me ver Uma simples visita mesmo no amanhecer Não há vida, cortinas erradiantes a luz do sol Todo ensanguentado, alguém troca o meu lençol (bom dia é hora de arrumar a cama) Se a morte fosse agora não iria me surpreender Porque nasci sabendo que ia morrer O que é que vou dizer, o que eu vou fazer Se o meu mundo acabar e eu ficar tão só, sozinho Ontem a noite a morte me visitou Levou o paciente do lado e me deixou Abriu a porta nem acreditei que era meu filho Minha mãe, minhas irmãs, meus sobrinhos Fiquei contente, mas só por uns instantes Entra a mãe do marcinho com tristeza no semblante Dizendo que eu teria que viver pra lhe contar Quem matou o seu filho e tentou me matar Meu estado emocional se agrava, não posso me conter Nem parar minha raiva, jurei pra mim mesmo Que eu iria me vingar, talvez se desse pra eu conseguir escapar Minha respiração tá lenta, o meu pulmão dói A medida que o ar entra A resistência se tornou agonia por viver, vou morrer Em questões de dias, vários meses enternados Mas sobrevivi, nasci de novo Pra quem tava morto eu consegui Não sou escravo de ninguém A vingança não faz parte de mim, não me convém Eu lutei pra respirar, não foi fácil Contrariei as estatísticas do fracasso Não vou tirar a vida de ninguém, porém Que ninguém tire a minha também Não quero mais a vida de anos atrás Hoje eu sei a sensação que tem a paz Eu quero viver pra minha família, pro meu filho Que lindo, me emociono quando penso nisso Mas sinto saudades do marcinho Que deus te dê um bom lugar melhor do que esse aqui Se eu fosse agora não iria me surpreender