O sofrimento, a dor, tudo acabou De cantoneira na sua cela a liberdade cantou O vagabundo ali, o que? Nem acreditou O funcionário no guichê, gritando: - A pena acabou ! As trancas, as grades, tudo se abriu Ele passou pela arena, mas ninguém aplaudiu Só olhos atentos, arregalados De quem tomava sol e também dos funcionários Anexo em silêncio, só gestos de mãos Tipo dando um salve, vai firmão sangue bom Com o destino obscuro e a mente confusa Em frente ao último portão ainda pensou em dar fuga É fóda, ele já esperava tudo aquilo Mas só quem já passou, está ligado no que eu digo As vezes em silêncio, as vezes inquieto Só pensando em fuga, quase virou arquiteto Com um plano na mente de resultado incerto Como fugir de um cubo de concreto e ferro? Já era, o grande portão se abriu Imóvel ele sentiu no rosto o vento frio Seu sangue, sua carne, tudo esquentou Depois de tanto tempo a liberdade chegou A ficha caiu, seu ciclo se concluiu E ele gritou para o mundo -Mundão, um homem saiu ! Com esperança, com fé e o destino na cara Não queria ser apenas mais um homem na estrada Tinha plena certeza que estava regenerado E que pela sociedade não seria injustiçado E feliz como criança andou, sem olhar pra traz Com a esperança verdadeira, de reencontrar a paz Continua... Seis meses depois... E ele foi julgado pelos erros do passado Pela sociedade ele foi sentenciado A ser excluído, proibido de viver O resultado era inevitável, fácil de prever Uma vítima fatal, muito sangue e confusão Seus sonhos de paz viraram desilusão Ferido e acuado, cercado como um rato De um lado a ratoeira, do outro lado o gato Pediu pra deus, seu mestre e seu guia Que o amparasse ali e olhasse por sua vida Homens de cinza, tiros e ele no chão caído Detido, socorrido e pro sistema conduzido Quatro balas no corpo, saúde fragilizada Latrocínio e resistência, foi a bronca assinada E o grande portão, se abriu novamente Imóvel ele sentiu no rosto o bafo quente Sete passos pra frente, batida e o eco na mente Do portão se fechando e os funça contente Convívio, atitude, viver e fugir Mais um sonho de liberdade, começava ali E olhando ao seu redor viu seu destino na cara Que pelo menos não foi igual ao do homem na estrada No meio da tarde o funcionário atracou As trancas, as grades, tudo ele fechou O sofrimento, a dor, tudo voltou Na madrugada sem dar goela, o homem chorou Lagrimas, no chão da cadeia faz eco Vagabundo endiabrado escuta até pelo chinelo Foi quando um grito no raio quebrou o silêncio Dizendo: -- Aí Jão ! seja bem vindo ao cativeiro, é tudo nosso ladrão! Ta dominado!