Passando aquele cerrado Lá pra diante do banhado Na beira do ribeirão Se vê uma santa cruz Uma imagem de Jesus E outra de São João Aquela cruz de peroba É testemunha e prova Da história que vou contar História triste, seu moço Ao lembrar eu faço esforço Pra meus olhos não chorar Há muitos anos atrás Eu morava com meus pais Lá no alto do espigão Eu ainda era pequeno Com seis anos mais ou menos Mas tenho recordação Foi num domingo de agosto Que meu pai com muito gosto Me levou no ribeirão E só pra me ver feliz Foi pescando os lambaris E pondo na minha mão A gente estava entretido Quando fomos surpreendidos Por uma onça pintada Fugiu atrás de um capão E na minha direção Ela veio em disparada Dei um grito estridente Meu velho pulou na frente Pra onça não me pegar O coitado de mãos limpas Lutou com a fera faminta Só pensando em me salvar Realmente me salvou Mas na luta ele tombou Pela fera dominado Sem nada poder fazer Eu vi meu herói morrer Vi seu corpo ensanguentado Foi assim que aconteceu Meu pai foi morar com Deus Para nunca mais voltar Esta é a triste história Gravada em minha memória Pra nunca mais se apagar Agora na capelinha De manhã ou de tardinha Todo dia vou rezar Rezo mesmo em alta voz Pela alma deste herói Que morreu pra me salvar Aquela cruz lá do mato Além de contar o fato Representa muito mais É marca do cristianismo Emblema do heroísmo E do grande amor de pai