Quem se lembra do Joãozinho Um menino pobrezinho Que vivia no arraiá Pelas ruas abandonado Ssempre sujo, rasgado Que dava pena de oiá E ainda o pessoar marvado Escorraçava o coitado Sem lembrá de perguntá Quem será este menino? Mas eu que sei o seu destino Vou sua história contá O seu pai era o Bastião Trabalhador, homem bão Não deixava fartá nada Mas a morte sem compaixão Pegou o pobre Bastião Levou pra outra morada Na hora que ele morreu Somente este encargo deu Pra sua muié a chorá Cuide bem do Joãozinho Mostre só os bons caminhos Ensine a te respeitá Mande só fazer o bem Não dever nada a ninguém E pra ele nunca esquecê Que é mais bonito e louvado Sofrer fome, mas honrado Do que roubar pra comê Foi as palavras derradeira Naquela cama de esteira Os seus zóio se fechô Com os anjos pro céu subiu E neste mundo vazio Só os dois sozinho ficou E sua mãe sem compaixão Acho que foi tentação Sem piedade e sem dó Com outro homem fugiu Morrendo de fome e frio O Joãozinho ficou só Arvoroçou o arraiá E Joãozinho a chorá Ninguém ouvia seus ais Odiado por toda a gente Pagava assim inocente A curpa de sua mãe Quando ele estendia a mão Pedindo um pedaço de pão Pra sua fome matá Diziam, suma já daqui pra fora Pois sua mãe foi-se embora E eu que vou lhe sustentá E assim ele foi morrendo Se acabando, padecendo Odiado no lugá Oie moço, que destino Que curpa tinha o menino De sua mãe não prestá E numa manhã de geada Lá nos degrau da escada Arguém um corpo encontrô Tava morto, encolhidinho Era o corpo do Joãozinho Que o povo ingrato matô Enrolado num saco Sepurtaro num buraco Não teve choro nem ais Não teve flor e nem vela Mas agora embaixo da terra Nós todos somos iguais Humanidade perdida Se te sobra comida Dê de esmola a quem não tem Porque a vida é sem garantia Ninguém sabe se argum dia Há de precisar também