Boa noite, mamãezinha Estou vendo o teu retrato Na parede de meu quarto Sorrindo, olhando pra mim E estou pensando Se ainda eu fosse bem criancinha Não estaria, mamãezinha Da senhora longe assim Mamãe, me deitei agora E estou alisando de leve Os meus lençóis cor de neve Iguais aos cabelos teus Que devem estar mais branquinhos Pelo peso da idade Ou talvez pela saudade Que ficou do meu adeus Deixe eu falar com a senhora Pelo menos na lembrança Estou me vendo criança E a senhora com carinho dizendo Bicho maluco Sai de cima do telhado Deixe dormir sossegado O meu querido filhinho Te lembras, mamãe As noites que eu às vezes adoecia Só a senhora não dormia Junto ao meu berço ficava Entre os desvarios da febre Teu vulto chorando eu via E inocente, eu não sabia Porque a senhora chorava É Quantas noites iguais a essa Talvez nesta mesma hora eu me lembro Que a senhora cantava pra eu dormir Falando assim com a saudade Eu volto a ser criancinha E parece, mamãezinha Que eu ainda não cresci Estou ouvindo gemendo O vento na cumeeira No céu as mesmas estrelas Que assistiram a minha infância É, aquele tempo vai longe Mas tão perto da saudade Que nem parece verdade Que estamos nesta distância Meu consolo é ter certeza Que a senhora neste instante Reza por mim suplicante Enquanto eu caminho ao léu Meu medo é saber que um dia Deus vai levar a senhora Pelo infinito a fora Num lugar chamado céu Que engraçado, assim falando Sem querer estou adormecendo E parece que estou vendo A senhora me embalar Voltei a ser teu menino Que gostoso é ser criança Mamãezinha, me balança Não me deixe despertar Oh! Deitado aqui tão distante O sono a vista me embaça Só peço a Deus que me faça Com a senhora sonhar Porque é somente sonhando Que eu posso voltar atrás E assim poder, minha mãe Com a senhora conversar Que sono que eu sinto agora Sinto a vista escurecendo Nem teu retrato estou vendo Que bão é ser criancinha Deixe alisar teus cabelos Mesmo que esteja sonhando Continue me embalando Boa noite, mamãezinha