Eu ando tudo esgualepado só de gorpeá redomão Peguei uns bagual criado de arrancá o couro das mão E a minha muié fica em casa cuidando da gurizada Pede a deus que eu ganhe uns troco pra pagar a água atrasada A luz já cortaram há dias clareia o biombo com vela E a patroa coitadinha tá amolada já faz dias Sente dor numa costela Tô com o pescoço rendido de forsejá c'os tição Fazendo meio de tudo cozinhando sem fogão Já tô ficando bicudo de assoprá fogo de chão Meu guri mais novo tá tapado de anemia Já marquemo uma consurta, mas só daqui trinta dias A muié com dor de dente, inchô um lado do rosto Mas vai tê que ir agüentando não tem dentista no posto Nervosa passa de briga com a mariazinha e o juca E o mais novo dos mulato de tanto brincá no mato Se encheu de berno na nuca Tô co pescoço papudo de andá aos tombo c'os tição Fazendo meio de tudo cozinhando sem fogão Já tô ficando bicudo de assoprá fogo de chão Quanto mais o tempo passa eu vô ficando azarado To com uma hérnia no saco que chego tranqueá de lado Quando o tempo tá pra chuva eu pinoteio de dor Vou só esperá mas um poco e vô ir num benzedor Me rendio ombreando dormento pra terminá um alambrado E a injusticia matungada larguei tudo pra invernada Depos de quaje domado Tô co pescoço papudo de anda aos tombo c'os tição Fazendo meio de tudo cozinhando sem fogão Já tô ficando bicudo de assoprá fogo de chão E anssim bamo indo aos tombo na vida dum pobretão Dois ou três passo pra diante quando invés um tropicão A pressão levanta e baixa tironeia o coração Vivendo aos gorpe c'a sorte menos mal que deus é bão Completei sessenta anos mais uns anos ainda guento Aluitei pra me aposentá mas dissero qui não dá Porque falta decumento Tô co pescoço papudo de andá aos tombo c'os tição Fazendo meio de tudo cozinhando sem fogão Já tô ficando bicudo de assoprá fogo de chão