Olha só pra minha casa, tá faltando tudo Minha mãe angustiada, nós estamos de luto Meu irmão que nos sustentava ontem mesmo morreu Agonizando em meus braços, disse que ia ficar tudo bem, me prometeu Morto pela polícia na esquina traficando Coberto por um lençol, seus pés ainda se mostrando Refém do destino, meu irmão foi só mais um Eu seria o próximo, fato mais do que comum Meu irmão não era santo, traficava pra caralho Mas era o único jeito, o governo era falho Nunca ajudou a população, revolta só aumentava Tinha que sustentar minha mãe, direto ela implorava "Filho, não segue o caminho do teu irmão" "Mãe", eu dizia: "Tranquilo, que horas são?" Já passava das 10, eu sabia o que fazer Começar uma carreira, carreira que fez meu irmão morrer Sou um refém do destino, faço o que ele me pede A playboyzada se agita, tão a fim de mais um beque Sodoma e Gomorra ali na minha frente O tráfico era intenso, o diabo está presente Um dia um PM folgado veio me enquadrar Mal me revistou, começou a me algemar Logo no meu finado irmão comecei a me lembrar Sei lá, mas nessas condições eu não devia estar O crime fode com tudo, qualquer hora você dança Meu futuro foi pro lixo, perdi até a esperança Julgado e condenado, sentenciado sem pudor O juiz bateu o martelo, foda-se a minha cor Preso e inofensivo, refletia sobre a vida Mais um vida loka, sente a vida bandida Vida, será que ainda tenho uma? Sei lá, não ligo mais pra porra nenhuma Na escuridão da cela, vendo o tempo passar Em câmera lenta, é verdade, já não dava pra aguentar Um vai e vêm na minha cabeça, só pensamento louco Pensava na minha mãe, tentava relaxar um pouco Certa vez escrevi pra ela uma carta dizendo assim: "Desculpa mãe, por tudo mais, enfim Se um dia eu sair daqui, juro, irei mudar Melhorar a minha vida, me por no meu lugar" Graças a Deus, faltava só alguns dias O fim do sofrimento junto às noites frias Pensava no meu bairro, até na vizinhança Jogar bola com os moleques, voltar a ser criança Infelizmente a vida não é um conto de fadas Perdi um truta meu, mano, quantas facadas Amizade de cadeia, um cara gente boa Era que nem eu, só pensava na sua coroa Fiquei imaginando se acontecesse comigo Ser morto brutalmente por algum inimigo Confesso, na real, um 121 sempre me assombra Na cadeia fui pacífico, fiquei longe das sombras Saindo daqui irei decidir o meu destino Não serei mais seu refém, é o que eu imagino Talvez voltar a estudar, fazer algo digno Dar às costas a maldade, a Satã, o maligno Não deixe se enganar, preserve sua inocência Sou um ex-presidiário, adquiri minha experiência Hoje vivo em paz, ignoro todo olhar torto Melhor ser livre e saudável do que preso e ser morto Às vezes penso e começo a orar pela alma de meu irmão Um desiludido, refém do destino, sem razão Peço a Deus que tenha compaixão daquele rapaz Saudades irmão, descanse em paz