Aquele garoto queria falar Mas não conseguia, Porque às vezes era interrompido E se calava triste e abatido Garoto que viu pai e mãe chorar E ficou oprimido Queria ter o que não tinha Ser o que não era Comer o que queria Garoto que chorou com fome E "entendeu" quando não tinha o que comer Chorou por besteiras Quando achava ser necessário Aprendeu a lutar para ajudar Crescia sonhando sem saber para quê Aprendendo ter objetivos sem saber por quê Aquele garoto que sofria e perguntava. Por quê? Aprendeu a pensar Pois não tinha tempo para brincar E das brincadeiras teve que se afastar Garoto que sorriu e chorou Era apenas um garoto E não sabia que ainda era criança Pois em si uma futura lembrança De um dia melhor Garoto... Que talvez um homem ou um adolescente Não aprendeu dizer o que sente Ele dança, canta e sorri Mas chora no final Pois uma tristeza o afoga Dorme preocupado em como será o amanhã Não sabe por que veio ao mundo Às vezes acha que nasceu para sofrer Garoto... Filho da irresponsabilidade de seus pais Por trazê-lo ao mundo Sem condições de mantê-lo Procura a criança que não pode ser Às vezes nem reconhece a si próprio E ainda sofre preconceitos Acusa a vida de derrota Não sabe o que é vitória Sente-se pobre e incapaz Às vezes se sente até um inútil Garoto que perde o medo das trevas Que apanhou e hoje mata se for preciso Mas ainda é apenas um garoto Que queria receber um carinho Pois viver, Parece que é ter que enfrentar espinhos Garoto faminto e de muito desejo Mas queria abraçar, Beijar, fazer um carinho Pode ser que alguém, o ame Mas queria mesmo era aprender a amar Garoto que tem medo, Mas não se rende Que olha pedindo ajuda Mas não fala Geme com desprezo e abandono Mas não se sente um coitado Porque ainda acha que pode Garoto que pode até ser rebelde Mas ainda é aquele garoto.