Tem gente que sente pena Dos meus arreio surrado Da cincha mal acabada Do pelegão costurado Das minhas rédeas desparelhas Que espichô golpeando potro Dos meus estrivo de ferro Um diferente do outro Do buçal forte e antigo De quatro tentos trançado Com a argola enferrujada E o cabresto remalhado Da cabeçada de sapo Um par de vez remendada Que pra esconder as costura Carrego bem engraxada! Poucos sabem do apreço Que tenho pelo o que é meu Quero bem cada costura Que no couro se prendeu Cada rangido insistente De basteiras ressequidas Cada tento desparelho Sabe um pouco da minha vida Por isso quando te vejo Encilhando um redomão Percebo em ti a beleza Que vai além da visão Não sou dos que sujo garras Pra promover o meu viço Apenas sovo na lida Quando me apura o serviço Eu mesmo não sinto pena Tampouco tenho por feio São cicatrizes de lida Que chamo de meus arreio E embora pouco bonito Tenho honra de canta-los Pois mesmo assim tão judiado Nunca pisou um cavalo!