Eles não sabem, não sabem a minha língua Eles não sabem bem qual é a minha língua Eles não sabem bem qual é a minha língua Do criolo da Guiné ao kibundu de Cabinda Eles não sabem bem qual é a minha língua Eles não sabem bem qual é a minha língua Eles não sabem bem qual é a minha língua Do criolo da Guiné ao kibundu de Cabinda É, eles não sabem a minha língua Tua ventura nessa área já é um trajeto à míngua E antes que se extingua, ou mesmo que insista Este aqui é o meu setor, tanto que gritam, terra à vista! Eu vi, muita gente confundir o preço e o valor Eu vi, muita gente esquecer a história pela cor Eu vi, muita gente aproveitando a vida alheia Eu vi, muita gente sufocar-se na própria teia! E o que tive que passar pra escrever isto aqui pra você? Quantos passos pra trás pra chegar onde se vê? Quantos me passaram para trás pelo vício de se ter? E o que tive no passado? Futuro do presente do querer, é! Eles não sabem, não sabem a minha língua Não, a minha língua, vai vendo! Eles não sabem, não sabem a minha língua Não tão ligado, à minha língua! Eles não sabem, não querem, não falam, nem procuram saber Raso querer, preguiça de ser Melhor não se envolver! História falha. Glória em tempos de cólera Ambição é culpa, falsa vitória! Olha Noix aqui hackeando o processo Pelo seu tropeço atravesso, regresso ao acesso (chora!) Exprimo o impresso, imprimo o expresso, ora Pois, ponha mais geopolítica nesse teu plano vazio (retórica oratória) Porque isso aqui Não é diss, cypher, treta, beef, egotrip, vê se me erra! Problema não é tropeçar, mas se apegar à pedra Porque há uma linha tênue entre briga, luta, cobiça, disputa Eu busco alma nessa vida puta! [AZAGAIA] Eles não sabem bem qual é a minha língua Do criolo da Guiné ao kibundu de Cabinda Misturado com versos de Camões Até a Europa quando ouve sabe que o Azagaia vinga! Quando cospem o seu rap revolucionário Não entendem porque a África é que escreveu o dicionário E se mandarem pra América outro Cristóvão Colombo Vamos tirar-lhe a língua pra se falar num quilombo [VINICIUS TERRA] Quilombo, silêncio do justo, grito de abusos Somos caçadores de nuvens caçados por tempestades Vultos, de outras gerações, respeito, alteridades É a voz, suspiro É o susto das autoridades Plano em curso, realidade Dispenso o luxo, amenidade Devolvo o voto, envolto devoto Sustento habilidade Tua vulnerabilidade? Mas é preciso despistar fantasmas Estender a mão àqueles que travam estacas! [Mynda Guevara] Ez ka sabi nha língua ma esten gana sabi Decifra nha mensagem poi cabeça ta reagi Nkre obiu ta grita, Guevara, Guevara! Ku nha spada na mon bu podi kre ma nka ta para Eleva nha cultura mano em cada som Obi Mynda, maz um bez na mas um colaboraçon Tuga e Brasil odja nos union Nos humildade eh porta aberto pa revoluçon! [DEXTER OITAVO ANJO] Ah, sai da frente que agora é cum nois memu As cartas desse baralho estão cheias de veneno Por vocês eu seguiria outro caminho, não o meu! Seria apenas mais um, sem expressão, um ateu! Sem fé no impossível, espírito pobre, baixo nível Vivendo sem eira nem beira de maneira indescritível, mas não! Corri atrás, fiz a minha, estudei O hip-hop foi a chave mestra, me eduquei! Superei, aprendi, também errei, mas corrigi Ao contrário do seu desejo, aí, hoje eu tô aqui! Na maior, firmão, fortão, guerreiro nato e assim Também hoje sou a extensão de Martin Luther King Tenho sim desejo de paz como Azagaia, Guevara e Terra Mas não se iluda, também tô preparado pra guerra! Me tornei um cavalo selvagem, te decepcionei Você não sabe a minha língua, né?! Mas a sua eu sei! Então calaram a voz e a vez do cantador Só que de tempos em tempos alguém abre a boca pra reclamar a fome e a dor! É nessa hora que a língua chora a palavra É o contrafluxo, do superstrato, de quem a calava! E se calhar, Tá mais que apalavrado A língua é uma cigana que deitou-se com um favelado Aí, já era, meu parça! No coração da América do Sul aos portos de África O sangue azul latim fundiu-se ao vermelho Índia-páprica! Esquinas, becos, Manuel de Barros, Mia Couto, Pepetela, Gregório de Matos Saramago, Cachaça, Cartola, Bocage Moraes, Melo Neto, Ferreira Gullar, Ondjaki Gil Vicente, Castro Alves, Luaty, Agualusa, Pessoa, Drummond Tantos poetas, Evoé, oxalá, outro som Cena que acena nas vozes dos surdos Habilidade é conteúdo, legitimidade contém tudo, versos, contem tudo! O progresso estará longe enquanto formos ilhas distantes, livros em estantes Brindes de stands, estandartes não pensantes Instantes inconstantes na seca de nós mesmos Desertos, miradouros, mirantes errantes, paragens e pontes a esmo E que o mesmo semblante seja o sangue semelhante É, isto aqui é uma língua!