João acordou naquela manhã amarela Com os olhos ainda embaçados tirou o angu no fundo da tigela Raspando o fundo do tacho, o sol ainda baixo, correu pra janela Com os olhos ainda embaçados, Viu os meninos fazendo de trave as chinelas E viu que subia dengosa lá no fundo da viela Ela, a moça formosa, futuro destaque da Portela Subia no emaranhado, tal qual fosse passarela E enquanto amanhecia, ela fazia a manhã mais bela Amanhecia na favela (4x) E ela trazia numa mão o pão, na outra vinha a mortadela O pai prostrado na porta do barraco, feito sentinela Pra ver se nenhum urubu botava os olhos na donzela Enquanto o pai desempregado se prevenia de tais mazelas Ela se enfeitava se olhando no fundo da panela vazia E dava ao café do João um tempero de cravo e canela Enquanto João olhava para os prédios da cidadela E se lembrava do café que via ser tomado na novela Que a noite passava na tela da outra janela Onde não há dor, não há temor, nem há favela...