Não é nossa culpa, nascemos com uma bênção Mais isso não é desculpa, pela má distribuição Temos crack na esquina, mãe chorando na vila Temos morte, desgraça, a caneta que finda Terno veste um cadáver e a agonia consome Mas não falho o discurso, chuto ratos ao longe Tenho dó, de quem plantou o flagrante moleque Morte ao povo negro, o povo pardo, silêncio pivete Sem direito declamam, desespero por grana O sistema avisa, tem propina e piranha Quem adere a conceitos, por migalha se mata O seu voto define, quem se safa ou paga Errou, admitiu a vera todo preconceito Não tem boi favela, tome tiro no próprio joelho O velório prossegue, cobra sempre no bote Faz de conta que soma, subtrai no rebote Povo pena nas ruas, noite escura adentro Põe derrota no prato, entre tantos lamentos E cadê a esmola, que nos damos sem perceber Que aquele abençoado, poderia ter sido você Somos poucos pra eles, maioria agoniza O barraco na encosta, aqui jaz a família Tem esgoto na rede de TV, só descaso Tira foto pilantra, põe sua vida no ralo Álcool, droga, vadia, tá de boa quadrilha Extermínio de jovens, a polícia avisa Quem cair tá fudido, aço corta a vida Tem escolas vazias, tudo certo família O fedor que consome, somos podres pra eles Voto vale o que come, porra traga mais redes O cansaço intima, mas cachaça, mais briga Os moleque na rima, outra quadra na mira A seguir cemitério, futuro detonado Segue a vida, vai capengando o finado A navalha que corta a carne, pacto de sangue Quanto mais miséria, os burgueses renova o levante Não é nossa culpa, nascemos com uma bênção Mais isso não é desculpa, pela má distribuição Nos colocaram pra escolher entre a fome e o crime Optamos pela guerrilha, a resistência sobrevive Traz motivação que nos inspira a ser melhor A lágrima de uma mãe que chora fala por si só Estudo e militância infelizmente é exceção A revolta da minha gente, é fruto da sua exclusão Do seu padrão que nos mantém no subemprego Senhores de engenho ainda exploram nosso povo negro Denúncia mermo, rabo preso com ninguém Justiça no Brasil é puta, e enxerga muito bem Prospera no vintém que compra voto e vaidade Subornam seus capachos, mas não compra nossa integridade Seja a verdade, no rap pras quebrada Que haja colete pra tanta prova de bala Parlamentar corrupção favela indignada Até quando esperar e ajoelhar-se em troco de nada? E cadê a esmola, que nos damos sem perceber Que aquele abençoado, poderia ter sido você