A estrada é um ritual de passagem Sob o sol antecipando visões O volante e a aquaplanagem O olho tem alucinações O sol queima minhas retinas Traz a lembrança da garota Era uma louca, desvairada Tão igual a tantas outras A casa se torna uma redoma Uma estufa de cristal e areia Com flores ornando eiras e beiras Ela minha deusa de ametista Mas pergunte ao pó Como se dichava ouro Pergunte ao pó Como se estraçalha amor Pergunte ao pó Como se amputa amigos Pergunte ao pó Como se faz pra encarar A medusa nos olhos e voltar atrás Num arpejo macio Doutro canto de lá Ele me disse pra ir Pois o sol é meu lar E mesmo eu não tendo O seu instrumento ancestral Captei sua mensagem Um tanto quanto transcendental E lá vem o sol de novo e de novo e de novo Lá vem A colheita e o arado Nas mãos frutas e calos Semear o centeio E então arrancar O invisível cabresto A percepção ao redor Deixam os olhos em flor O urucum para a pele Rosa-maria pra prece Oh, Pai! Cá está nossa oferenda Já são tantas sementes a brotar Que não consigo mais conta-las E essas Não para afastar os demônios Mas sim para conseguirmos Encara-los nos olhos É isso Por hora eu fico aqui Cima a terra Baixo o céu Entre verdade e verdade Acendendo um cigarro no sol Mas espere Ainda há tão mais Tão mais Pois essa noite eu sonhei Que lhe cantava Uma canção sobre sonhos