Quase 27 Fugindo da agonia Flertando com a loucura Vivendo a pandemia Sentindo a tensão dos dias enquanto me dizem que a cura se aproxima E até lá o que eu faço com essa vontade de viver? Já que o inesperado não bate a porta pra me ver E tudo, tudo tudo eu tenho que criar, longe das madrugadas frias no rolê Vou fazer o quê? Já que diferente das amigas eu não consigo me envolver Prefiro só eu e a Bastet Com a sensação que me acompanha há tempos de que só mesmo As amizades vão permanecer Vou fazer o quê? Cresci desconfiada, a mãe garantindo a casa E um dia retribuo cada escolha que ela fez Mas com o brasa do jeito que tá eu acho que vai mais de mês E talvez esse dia nem exista mas pra ela vale mais eu na luta do que rica Aliás isso que importa já que durmo e acordo sentindo tanta revolta Vou fazer o quê? Eu só queria viver a reta final dos 20 Mas não tem como fingir e se não acho a paz dentro de mim Como eu faço pra ela chegar até você? Vou fazer o quê? Acho que vou escrever Sobre o dia que fui lá pro alto de Goiás e a natureza me ensinou Sobre encontros que transformam a alma em instantes Que ardem entre a Terra e o céu Parece um sonho lúcido mas dessa vez não é É mesmo uma coral ali embaixo do meu pé Naquele dia 5 eu entendi Qual era o lema a partir dali Escuta seu coração, chora suas lágrimas Se recompõe e vive A vida adulta chega e convida pra dançar E muitas vezes é com a alma que a gente precisa escutar O que sou, o que fui e o que quero ser? Essa equação agora eu sei que não preciso responder Vou dizer o quê? Se nem daqui eu sou só mais um espírito interplanetário Que tantas vezes falhou Vivendo o abissal paradoxo De vender a alma pra comer Ou alimentar a alma pra viver Quantas outras horas eu vou precisar? Só eu e o mar Buscando aquela desconhecida para habitar minha pele a partir de amanhã Eu fui lá buscar Nas profundezas do ser Nas profundezas do mar Nas profundezas que por si somente se pode alcançar