Tenho um vício por prazer, a dor da necessidade Se não tens amor, é só dor Se queres prazer, dás amor Se não tens amor, é só dor Se queres prazer, dás amor Passava horas e horas a escrever no quarto A fazer trilhas sonoras pra sair do anonimato Mal dormia, mal saia, mal via os amigos A escrita era minha religião, meu castigo meu abrigo Eu rimo as dores do meu povo Envolvo nos versos o sofrimento que absolvo Ela mandou-me um mail A dizer que sou o rei e que trouxe um estilo novo Diz que chora desalmadamеnte Quando eu rimo intensamеnte Nos temas mais comoventes Diz que me quer conhecer Pra ver realmente se eu sou o que digo ser Encontramos num bar no Vasco da Gama Logo fiquei encantado com aquela áurea africana Ela explana uma negritude soberana Imana a mesma luz que originou o nirvana Começamo-nos a ver regularmente E como era evidente acabou em envolvimento Dia sim, dia não, em minha casa Entrosamento sexual até o esgotamento Foram vários meses na mesma rotina Mas estava sem adrenalina que o puro amor origina Eu não a amo, mas o sexo é tão bom Que eu não consigo acabar com ela e terminar nossa novela Por isso eu minto e digo que lhe amo O amor dela é insano, ela nem sente que é engano Ela ama-me perdidamente E acha que o relacionamento durará eternamente Passaram-se dois anos e fui ficando distante Já era flagrante aquele meu distanciamento Ganhei coragem, resolvi acabar Resolvi terminar o que já não tinha fundamento Ela entrou num caos depressivo Autopunitivo e quase vegetativo Não comia, não dormia, não saia de casa Entregou-se num processo erosivo, corrosivo Largou o trabalho, largou a faculdade Ficou esquelética e perto da insanidade Com instintos suicidas, completamente escurecida Vazia e destruída Se não tens amor, é só dor Se queres prazer, dás amor Se não tens amor, é só dor Se queres prazer, dás amor Esta é uma música profunda irmão Na estrada da tua vida O teu espírito estimula-te sempre a fugir da dor E ir em busca do prazer Mas lembra-te sempre que há muitos objetivos Que tu não consegues sem dor Sem sacrifício, sem sangue E lembra-te que tu podes erguer, reerguer Ou salvar vidas, sacrificando-te por elas Sangrando por elas em atos de puro altruísmo Na busca pelo prazer tu podes ficar cego E chacinar a alma de outros seres humanos Em atos de puro egoísmo Vai também em busca do prazer, irmão Vai também em busca da tua felicidade Leva outros manos contigo Ensina os manos a amar Ensina aos manos o humanismo Se não tens amor, és só dor Se queres prazer, dás amor Se não tens amor, és só dor Se queres prazer, dás amor