Depois a gente inventa Uma outra maneira de falar De uma forma que não arrebenta Nos obrigando a calar Já que tudo que a gente diz Dizem que é proibido É coisa que contradiz A um ser assim tão sabido Depois a gente inventa Uma maneira de falar Porque todo rei Tem sangue na venta E quase nada ele quer escutar E por isso eu já não sei Se eu falo Canto ou berro Pra que um dia congele Na garganta um calo De tanto vomitar o que eu quero Depois a gente inventa Uma direção Uma luz que levanta E acenda teu coração Que já anda meio escuro e perdido Vivendo em contradição Depois a gente inventa Uma palavra Que seja tão só Mas sempre dona da gente Que toma conta de nos dois Quando levantar aquele pó E nada mais se ver pela frente Coisa dura tormenta Palpite cego valente Palavra arisca confusa Diagonal do tempo serpente Que vibra cai E não sai Nos vãos desse cais Já recai Quando perdido se acha que vai E a boca intrusa Num segundo retrai Depois a gente inventa Uma outra maneira de calar Dessa vez um tanto diferente Daquela que se tem de falar Que surdo que é surdo lamenta Um dia não poder escutar Pelos ares vai sempre voando Algo que o povo dizia Quando os homens Na terra voltando Ouvia somente o que queria Parte que não preenche Voz que não alimenta É esse o mais puro vazio De quem consente por fora E se cala por dentro É nessas horas Que eu já não sei Por que será que ainda aguenta E não abre esse jogo agora Todo dia só aumenta E um segundo já demora É coisa que o coração inventa E logo já quer gritar Por tudo que tá engasgado E já não dar pra esperar Voz maluca quer correr Quer cair na tentação De quem fala por viver Por gritar um coração Que palavra enche o mundo Enche mais que o ribeirão E se não grita quer morrer É como viver na escuridão