Somos o pó De uma vida em ruínas E uma gente Sem disciplinas Tentando desatar esse nó Somos a rampa do morro E cara mais suja no chão Somos enfim aquele choro Sem a chave do mundo na mão Somos relâmpagos Invernos e refrão Que o trovão da vida É um poema Pra moça sem coração Que vive sempre iludida Fazendo dos seus dias Um dilema No breu confuso da noite Sem amor, amigos ou paixão Somos a voz Que se solta em vão Um ser feroz Na escuridão Somos a correnteza E aquela multidão Vivendo de incertezas Querendo tocar O sol com as mãos Somos enfim uma fortaleza E toda aquela confusão Somos a liberdade E toda a solidão Prisioneiros da desigualdade E da falta de compaixão Pois o mundo é um motor Que gira em rotação Onde a verdade As vezes se esconde E no peito ainda mora uma dor Somos enfim essa multidão Com essa falta de amor E perdão Que a vida as vezes É como um trator Um certo quinhão Pra quem tem outra cor Nós somos a falta Que preenche o vazio A solidão que exalta E o sucesso um tanto tardio Somos o regresso De quem vem de longe Trazendo na mala Sonho e esperança E também algum documento Mulher sempre fica na sala E criança vem com o tempo Quando a coisa aqui melhorar Eu coloco todos na bagagem E também carrego pra cá Pra ver o sol nascer mais bonito E beleza vai ser trabalhar Pra se sonhar com o infinito Primeiro é preciso buscar Pra depois louvar com o bendito O que de fato pôde encontrar Do pó do nordeste sem chuva Onde só tem curva e peste Eu vou direto é pra cidade grande Pra que algo de bom Lá se manifeste Apesar do barulho do som Diferente de lá do nordeste Onde tudo era só silêncio E tão calmo o nosso agreste Levo comigo o meu dom Que tenho há milênios Uma forma assim de presente Vinda de uma força celeste Pra quem tá na vida sem rumo E longe da casa da gente