Eu tô chegando faço verso no repente E tenho pra minha gente uma história pra contar Uma história de vida tão desgraçada Ô peste tão disgramada, se prepara pra escutar Quando eu nasci no meio da seca virgem Minha mãe tinha vertigem por conta de Muito Sol Tava voltando para terra de origem Lá com a Santa Edwirges na estrada muito pó Eu nasci seco com uma perna muito fina Mamãe era Serafina e meu pai era João E desde cedo essa era minha sina Tomando banho de tina uma vez por mês tá bom Filho mais novo naquele tão mau momento Tinha que arrumar sustento para eu e dez Irmãos Josefa, Cláudia, Zeferino, Adamastor Olegário, Pedro Paulo, Agripino e Conceição Pra completar Mariana Cruz Fonseca Menina da perna seca e faltou eu Sebastião E pra comer tinha que caçar no mato até Sola de sapato nos servia pra fartar Calango, grilo, a gente fazia a cata, rato Perna de barata, tá na hora de almoçar Eu fui crescendo e fui trabalhar na roça Minha mãe já quase morta de ataque do coração Mas o serviço ela sempre continuava, dava Duro não parava, era o nosso ganha pão Lutava sempre para ter nossa terrinha Era o sonho que pai tinha Esse era nosso drama Pra completar Cláudia vira prostituta Mudando sua conduta e por dinheiro vai Pra cama Eu fui crescendo e fui ficando revoltado Já estava bem cansado de ralar pra "coroné" Da minha terra eu saí de mala e cuia e Andando feito tapuia Na estrada botei pé Subi num trem, fui pro Rio de Janeiro Era mês de fevereiro, era tempo de verão Fui esperando que ia ganhar dinheiro Bem depressa, bem ligeiro, melhorar a Situação Era tão grande, uma selva de cimento Mas que arrependimento de ter saído de lá Mas eu sou bicho, cabra macho, tenho Nome Vou mostrar que eu sou homem, tô aí, vou Encarar! Então um dia eu vou ter felicidade Bem aqui nessa cidade vão me chamar de Doutor Passou dois anos e o que eu pude arranjar Foi um barraco pra morar e um cargo de Estivador Até que um dia arrumei uma graninha Foi quando uma vizinha Me arrumou um tal biscate Pra entregar encomenda de embrulho Era um tal de bagulho para uma tal boate Passei um mês entregando o dito cujo Me chamavam de marujo, marinheiro do Pacote Até que um dia os home me deram prensa Pois o crime não compensa Então eles me deram um bote E os meganha comigo pintaram o sete Me meteram o cassetete e uns dezoito bofetão Lá na cadeia os home fizeram ficha Me prenderam com duas bichas e me Jogaram na prisão Desesperado a cabeça dava nó, e eu Naquele xilindró Não parava de pensar Cidade grande agente só se enterra, vou Voltar pra minha terra Vou deixar esse lugar Mas minha gente essa foi a minha história Que eu trago na memória desse mundo Ordinário Mas hoje em dia sou bandido e vivo disso Pois ninguém quer dar serviço para um ex Presidiário E toca o fole sanfoneiro por que quem Atravessar no meu caminho Eu passo é por cima!!!