Numa vila abandonada lá no meio do sertão Um coveiro aposentado resolveu criar um cão Todos falam que o bicho foi nascido em maldição Seu latido dá má sorte e trazer morte é sua função Se ele é o melhor amigo Não pode haver perigo À meia noite em ponto O cachorro desordeiro Anuncia outra morte Para a sorte do coveiro Com o pelo todo preto e o zóio esbugalhado Uma mancha na cabeça e o couro enrugado O seu rabo não se encontra, certeza foi arrancado Suas orelhas de morcego sempre o deixa bem ligado Esse bicho é a danação Não se sabe se é assombração À meia noite em ponto O cachorro desordeiro Anuncia outra morte Para a sorte do coveiro De manhã vem a notícia se espalhando lá na vila Mais um corpo encontrado afundado na argila As pessoas curiosas fazem roda e fazem fila E o cachorro lá de longe joga praga e não vacila Depois que o sol vai embora A situação só piora À meia noite em ponto O cachorro desordeiro Anuncia outra morte Para a sorte do coveiro Do enterro da pessoa não se vê muito relato A família paga flores, o caixão e o retrato O coveiro dá comida e o cachorro limpa o prato Cada morte é um dinheiro e o coveiro fica grato A dupla espalha o mal O coveiro e o cachorro infernal À meia noite em ponto O cachorro desordeiro Anuncia outra morte Para a sorte do coveiro