Bateram ao Postigo Era o carteiro Trazia um Sobrescrito de Lisboa Não era engano O nome, estava inteiro Era dirigido à minha pessoa Abri logo ali era a respeito De um pedido que em tempos eu fiz Para qualquer ofício eu ganho geito Mesmo que seja só como aprendiz Nessa tarde já não saí de casa Sentei me em frente ao lume a matutar Enquanto dava a volta a uma brasa Há dias de perder e de ganhar Meti a tralha toda para um cesto E mesmo ainda assim sobrava fundo O que ficou tinha muito mais texto Não cabe em nenhum verso deste mundo Tantas voltas dá a vida Tantas voltas dá o mundo E depois volta não volta Muda tudo num segundo Foi toda a minha gente à despedida Ao largo donde saiu a carreira Abraços, beijos e até comida Cada um exprimisse à sua maneira E foi assim que a vida deu uma volta A carta e os conselhos de um braseiro O campo por onde eu andava a solta Agora está no fundo do estaleiro Tantas voltas dá a vida Tantas voltas dá o mundo E depois volta não volta Muda tudo num segundo