De madrugada Canta o galo no terreiro Eu acordo bem ligeiro E me levanto pra espiar Pego a enxada Lavro a terra o dia inteiro Sou caboclo, sou roceiro Vocês podem acreditar Trago nas mãos Alguns calos dessa luta De lavrar a terra bruta E ela quase me matou Com minha enxada A cuidei e pus semente Mas da safra infelizmente Só migalhas me restou Do seu sertão Todos têm muita saudade Mas na verdade Da enxada ninguém sente Se eu precisar Outra vez puxar a enxada Eu não volto nem por nada Me perdoe minha gente Sei que essa coisa De algum modo está errada Sou eu quem puxo a enxada E labuto pra plantar Mas quando colho Vão se os grãos e fica a palha Fico só com minha tralha Não sei a quem reclamar E vem a chuva Vem o frio e a geada Pego trouxa e filharada E vou pra cidade morar Num bairro pobre Faço bico o mês inteiro Eu cansei de ser roceiro E de pançudo sustentar Do seu sertão Todos têm muita saudade Mas na verdade Da enxada ninguém sente Se eu precisar Outra vez puxar a enxada Eu não volto nem por nada Me perdoe minha gente