Tiago Machado

De Lida e Suerte

Tiago Machado


Que sorte buena que o patrão velho, buenacho,
Ao me mandar cá pra baixo me entregou como regalo.
Além da vida, me deu saúde e destreza,
Uma linda por princesa e um trono sobre o cavalo.

Talvez por isso que eu não refugo bolada,
Não reclamo da rodada, nem da rudeza da lida.
De fronte erguida sigo confiando no braço
E as agruras que passo me dão coragem pra vida.

Que mala suerte anda comigo na estrada,
O mundo é uma encruzilhada de uma incerteza sem fim
A minha china, há muito se foi do rancho
E até meu baio farrancho já nega estrivo pra mim.

Ando azarado e a cousa se parou preta,
Perdi tudo na carpeta, já não tenho o que jogar
Os meus parentes também já me abandonaram,
De boca larga falaram que eu não quero trabalhar.

Que sorte buena! Que "mala suerte"!
São dois gaúchos do mesmo chão.
A sorte buena amadrinha quem labuta
E o vivente que não luta
Não alcança seu quinhão.

Compadre velho que me escuta nesta hora,
Seja do povo ou de fora, careço tua atenção
A sorte buena amadrinha quem trabalha
E não quem fica "nas palha", chimarreando no galpão.
Não adianta se queixar que a vida é braba
Se o vivente não faz nada pra mudar a situação.