Que sorte buena que o patrão velho, buenacho, Ao me mandar cá pra baixo me entregou como regalo. Além da vida, me deu saúde e destreza, Uma linda por princesa e um trono sobre o cavalo. Talvez por isso que eu não refugo bolada, Não reclamo da rodada, nem da rudeza da lida. De fronte erguida sigo confiando no braço E as agruras que passo me dão coragem pra vida. Que mala suerte anda comigo na estrada, O mundo é uma encruzilhada de uma incerteza sem fim A minha china, há muito se foi do rancho E até meu baio farrancho já nega estrivo pra mim. Ando azarado e a cousa se parou preta, Perdi tudo na carpeta, já não tenho o que jogar Os meus parentes também já me abandonaram, De boca larga falaram que eu não quero trabalhar. Que sorte buena! Que "mala suerte"! São dois gaúchos do mesmo chão. A sorte buena amadrinha quem labuta E o vivente que não luta Não alcança seu quinhão. Compadre velho que me escuta nesta hora, Seja do povo ou de fora, careço tua atenção A sorte buena amadrinha quem trabalha E não quem fica "nas palha", chimarreando no galpão. Não adianta se queixar que a vida é braba Se o vivente não faz nada pra mudar a situação.