Thiago Elniño

O Livro da Selva (part. Daiana Damião)

Thiago Elniño


Eles combinaram de nos matar
Mas nós combinamos de não morrer
Se eles querem guerra, terror nenhum
Só que o nosso povo não vai correr
Mesmo que o tempo possa fechar
Independente do que possa acontecer
Nosso povo nunca vai se entregar
Nós só acreditamos em vencer

Desacredita não, pretin
Que tua falta de fé
É a melhor arma que eles têm
Pra invadir tua cabeça, irmão
E do pior de si, eles te fazerem refém
Quantas ideias tortas vêm e vão
Ás vezes é bom recuar
Voltar para sua família
E tentar se conectar com o que você é
Ouvir histórias do passado
Vindas da boca de quem passou
Pelo que você tem passado
E o brilho no olhar não se apagou
Chame as crianças pra brincar
E veja que no que tu ensina a elas
Consiste o ato de se eternizar
Feito um palhaço de folia
Eu sigo dando vida ao amanhã
Conduzindo a alma pra celebrações
Onde a poesia é anfitriã
Templo de malditos e abandonados
Rituais pagãos, culto marginal
Escola de excluídos e mal-amados
Fonte de dignidade ancestral
O encontro de um Jesus Cristo Preto
Em Aruanda as voltas com Oxalá
Rindo de toda cafonice
De quem pinta de branca Iemanjá
Mãe forte que de longe nos observa
Eu peço sua bênção pra rimar
Em nome de cada irmãozinho preto
Que na travessia ficou pelo mar

Eles combinaram de nos matar
Mas nós combinamos de não morrer
Se eles querem guerra, terror nenhum
Só que o nosso povo não vai correr
Mesmo que o tempo possa fechar
Independente do que possa acontecer
Nosso povo nunca vai se entregar
Nós só acreditamos em vencer
Nosso povo canta e dança a noite
Pra poder tá mais forte de dia
Por mais que nossa vida seja dura
Nossos tambor pulsa
Trazendo mais swing a melodia
Ao caos que se faz presente agora
Tu pensa no futuro e quase chora
Anos duram minutos, segundos duram horas
E a gente só se fode a cada nascer da aurora
Eu já tô farto de ter que aguentar
Cês tentarem me calar
Se tentarem me calar
Cês vão ter que aguentar
Eu querendo o sangue de vocês na mão
Eu bebendo gota por gota
Pra lembrar de cada irmão
Que daqui se foi antes dos 30
Com vocês dizendo: Já foi tarde
É o mínimo que se pode esperar
De uma gente acostumada a ser tão covarde
Por isso eu digo, não se espera nada
De quem quer tu atravesse
Um oceano de desgraça a nado
Povo inútil
Povo desgraçado
Depois vem vender boia
Como se não houvesse nada errado
A existência de vocês é um erro
Se for ao vivo, eu te pergunto
Quantos pretos que têm na plateia
Se for menos que brancos, então tá errado
Ei lobinhos, eis aqui
O Shere Khan diante a alcateia
E Jesus Cristo não é mogle de vocês
Cês esperam um salvador
E eu tô indo pra Salvador
Empretecer o resto do país, de lá
Até cês pintarem de preto a cor do Cristo Redentor
Eis aqui eu sou o filho de Kemet
Descendente de um povo que nunca cai
Então entenda que definitivamente
Quem nasceu pra Baobá
Não aceita ser tratado igual Bonsai

Eles combinaram de nos matar
Mas nós combinamos de não morrer
Se eles querem guerra, terror nenhum
Só que o nosso povo não vai correr
Mesmo que o tempo possa fechar
Independente do que possa acontecer
Nosso povo nunca vai se entregar
Nós só acreditamos em vencer