Eu preciso falar de um Brasil, ôô, ôô Que aprendi a moldar com as mãos, ôô Que me deu matéria-prima Pra compor além da rima A senhora perfeição Essa arte genuína É herança feminina Por talentos naturais Tem o sopro de tupã Que conduz a artesã Ao saber dos ancestrais É no barreiro no vale do mulembá Que a mão preta se encontra com o chão Barro sagrado que veio de lá Que ganha a forma da vida em transformação É no fogo! É na fogueira! Na panela ou na moringa Que a velha paneleira Vai batendo a muxinga Face do conhecimento Que partilha o saber É feita de mãe para filha Ensinar e aprender Oh moça, isso é coisa de família A esperança na argila Modelando este país Meu pranto é um cortejo que desfila Em cada canto, a minha raiz Em fevereiro, ou janeiro ao sexto dia Visto a suja fantasia Pra erguer minha bandeira Tambor de congo Cantar de quilombo A resistência é a voz da paneleira É na renda! É na palha! O retrato de um Brasil Feminino, inocente Que orgulho a mãe gentil É na renda! É na palha Que vesti minha nação Pra ver a arte do barro ao barracão