Se você tiver um coração Ou víscera qualquer Fique à vontade pra me desamar como quiser Raiva é direito de qualquer cristão Mas sua raiva não é o revés da paixão Não vem do vácuo de um amor É grita de consumidor Que exige a indenização Porque amassaram seu embrulho Avariaram seu orgulho Ou bloquearam seu cartão Acho que, aliás, tudo que eu fiz Foi mais pra lhe ferir Pra macerar sua fria secura de faquir E lhe fazer ao menos infeliz Mas tem um ângulo reto no seu nariz E um quê de cacto no olhar Que nem a dor pode abrandar Quem olha vê que não condiz O seu discurso com a cara Pois um muro lhe antepara E eu mal arranho seu verniz Arranque a máscara se ainda for capaz Ponha uma lágrima pra fora que eu já não agüento mais Essa mortalha a guisa de paz Esse fastio feito praga que se espalha Eu preferia que você fosse cruel Que me batesse ou me cuspisse ou me fizesse um escarcéu Era melhor sorver do seu fel Tomar um talho de navalha, até morrer de tanta represália Mas você tem palha no lugar Que eu tenho um coração Palha gelada onde chispa não vira combustão Qual espantalho em região polar Só que as palavras que você deu de falar Tilintam como as de um robô Que num arroubo variou E não consegue mais calar Porque deu curto no sistema Quando ouviu um teorema Sem registro em seu radar