Passa, passa, gavião Todo o mundo é bom e mau Não me arranha o coração Não assombra meu quintal Passo-preto, passado que não passou Que tambor te encantou Que ato, que palavra oculta te perpetuou? O teu olho vazado me divisou Tua venta ventou Teu bico bicou bem o músculo que atrofiou Por que te aninhaste debaixo do meu pensamento Dentro de alguma dor Com teu rumor de rapina e teu silêncio de tumor Ávido pra me atiçar um sofrimento? Sai, sai, passarinhão Bacurau mudou de tom Faz favor, tem compaixão Todo mundo é mau e bom Passo-preto, espantalho não te espantou Tiro não te matou Que crime dormido em meu sangue te maravilhou? O teu ovo gorado já me agourou Teu canto me calou Ficaste vivo mais que a vida, o medo me empalhou Por qual razão desconhecida botaste tocaia Praga ou desamor? Tu que és metade uma harpia e metade és um estupor Tu que penetraste o meu pesadelo, meu invasor Passa noite, passa arribação Passa a terçã Passa, passa, gavião Me larga e segue a trilha do acauã Que a manhã rebrilha Sai, sai, volta não Passa, passa, gavião Redondilha, redenção